A nave mais uma vez se pôs em movimento.
Para o neófito, bem poderia parecer aquilo um planador,pois a falta de ruído de motores, que haviam sido substituídos por energia-luz, fazia um verdadeiro conjuro ao silêncio.
       Para evitar tal monotonia, ligava-se uma música.. E esta dava  aos  movimentos  oscilantes da nave um ritmo que poderiamos denominar de "dança côsmica".
       Como sempre, a nave partia em direção à Terra.
       De que planeta? De que satélite artificial?
       A verdade  é que  este  mistério  não  havia  sido ainda compreendido pelos humanos.
       O mistério estava no espaço, naquele  estado  imaterial  no qual ficam todas as coisas       
quando se  transmutam e  não se desintegram, naquela forma sem forma à qual poderiamos
dar o nome de essência.
       E,   conforme   a   nave  ia  se  aproximando  de  nossa atmosfera, ia primeiro projetando-se 
em  sombra,  que  aos poucos  se  fazia  luz,  se  integrava  depois  na  cor  branca-cinzenta, 
para pouco depois, aquilo que parecia uma nuvem, torna-se nave.
       E era tão sólida agora a matéria que a compunha, como corpóreos os dois espíritos que nela viajavam.E Ele e Ela ( pois nunca tiveram outros nomes ) , começavam a ver-se e a sentir-se.
Parecia que ambos nasciam da conjugação de dois sorrisos, enquanto que, ao começar a viagem de retorno, se diluiam em duas líquidas lágrimas.
Quanto tempo fazia que repetiam essa viagem?
Tempo?
Que é o tempo?
Eles haviam estado sempre ali. Não haviam nascidos, pela simples razão de que não podiam morrer, e não podiam morrer, pela simples razão de não terem nascido.
Era só isso: movimento, dinâmica astral, luz akásica. Talvez um projeto de Deus, que continuava em projeto.
Mas, até que fossem usados, até que voltassem à memória, do Criador, na suposição de que o Criador tivesse memória, eles, na limitação de serem simplesmente projeto, idealizavam o que poderíamos denominar de "projeção para o futuro".
E a nave se aproximava da Terra, sempre seguindo o mesmo caminho: aquele raio de sol, velho conhecido dele e dela, aquele raio de sol que os envolvia em sua luz e os alentava na marcha.
Ela, muitas vezes, aproveitava a energia solar, dando a seus cabelos maior tonalidade loura.
Ele, colocava-se atrás, se albergava em sua sombra e conseguia o milagre de torna-se castanho.
E os dois sentiam a felicidade de aproveitar as cores naturais do cosmos, para criar suas
próprias cores.
Vestiam-se de nuvens e faziam os adornos com estrelas. E assim, o caminho ia-se fazendo mais curto.
E quando estava a ponto de terminar a música que provinha daqueles duas conchas astrais, a nave chegava ao altiplano. Pairava lentamente, com a elegância do pouso de uma ave.
E os dois, de mãos dadas, saiam à Terra. E a atmosfera, o ar e o oxigênio faziam o vazio de seus dois lados, para não danificar aqueles visitantes, aqueleas duas matérias diferentes das nossas terrestres, mais corpóreas, visiveis, coloridas, de eterna juventude.
ELE e ELA tinham seus amigos: as pedras e os cactus, a água do arroio, aquelas flores, tudo o que encontravam em sua passagem. E pulavam, de mãos dadas, e diziam a todos, em sua passagem:
"Venham, venham onde nós vivemos, no outro lado do espaço!
"Queremos que os homens da Terra apredam também a fazer a viagem que permite burlar as dimensões, o tempo e o espaço.
"Venham! Venham!
"Se conseguirem fazê-lo, prometemos que os estaremos esperando para oferecer-lhes, em uma saudação cósmica, toda a realidade que existe ali, no outro lado".
Sua vozes não se perdem no vazio: são recolhidas por aqueles que, na meditação, esperam ser chamados. E muitos vão, seguindo aquele caminho com ELE e ELA, indo para o outro lado, onde não importa a matéria, onde o perfume é corpóreo, a flor etérea, e onde, para ver a luz, não fazem falta os olhos.
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